Pedro Ribeiro da Silva na AveiroMag

Andar a pé é o ato elementar da mobilidade. Quase nascemos com ele ainda que, mesmo após o nascimento e primeiros meses de vida, é o gatinhar o modo de deslocação pela casa. Quando já começamos a olhar o mundo, a tentar articular sons que serão letras para, no futuro, escreverem palavras e ainda mais à frente construir frases que os vão identificar perante todos, começamos a andar a pé, para não mais parar. Ou talvez não.

Há, nos primeiros meses de vida, uma espécie de adaptação rápida que viaja de bebé para criança. Como diz Darwin, em “A Origem das Espécies”, fomos evoluindo, por adaptação, até às formas fisionómicas que hoje nos identificam. Ficam, porém, no mínimo, algumas dúvidas sobre a inteligência (sapiens) da adaptação fordiana que levou o “Homo Sapiens” para o “Homo Automobilis” e para o empobrecimento da vida na cidade que o uso excessivo do automóvel causou.

Criou-se, com o veículo, um artefacto que envolveu o corpo e lhe deu novos contornos e imagem, produziu novos valores e enalteceu o homem e a mulher enquanto individualidade. As cidades alargaram estradas no seu interior e passaram a ter a preponderância da ocupação no espaço público: quer quando se deslocam, quer quando estacionados.

Paralelamente, não obstante a cápsula em que passamos a mover-nos na cidade, para nos adaptarmos às circunstância, projetámos também uma imagem de possuirmos um corpo capaz da maior elegância, produtor de vaidades múltiplas e um carro de marca na garagem do prédio que se habita.

Parece, com frequência, não sabermos lidar com o nosso corpo e nem sempre o habitamos com gosto e orgulho, talvez porque estamos dele reféns e irremediavelmente condenados a viver no seu interior. “A Pele que Habito”, filme de Pedro Almodôvar, disso dá nota levando ao confronto entre o criador e a criação da mudança corporal. Neste contexto, face às dificuldades que a cidade produz, sentámo-nos e habitamos os nossos artefactos ou próteses das quais, a mais comum, é o automóvel.

Envergonhamo-nos do nosso corpo se somos gordos, baixos, velhos ou deficientes. Por vezes até se formos de outra cor de pele, credo ou de tomarmos opções sexuais ainda minoritárias. A dimensão ideológica do espaço público está sempre presente como, por exemplo, nos cartazes demonstrativos de obras públicas ou de vendas de apartamentos. Se bem repararmos, as pessoas 3D lá desenhadas raiam a perfeição da forma humana, como indicador da eloquência do governante ou de bem-estar supremo da casa a comprar. Os corpos estão a sofrer de especulação na forma e a chegar ao preço inflacionado de uma Barbie ou Ken.

Há agora, porém, novas formas de confronto ilusão-desilusão, fornecida pelas fotografias trabalhadas, produzidas e colocadas nas redes sociais em que o programa nos adelgaça o que supostamente temos a mais. Seria de pensar que tal é produzido para a admiração de terceiros no espaço público da cidade, como outrora. Porém, pelo contrário, agora toda esta produção pessoal é destinada a ser gerida no espaço privado.

Na verdade, passamos a ser privados em toda a nossa dimensão, usos e costumes. Alegremente privatizamos a nossa existência que, como comunidades urbanas que somos, deveriamos ter um equilíbrio entre o público e o privado. Neste sentido, rejeitamos colocar o corpo na rua e até impedimos os outros de o fazer. Hoje, até no espaço público somos privados: na rua, dentro do carro, na praça, na esplanada pagando mais por um copo de água do que por um manancial de informação de um jornal.

Privatizamos a existência. De casa para a garagem, para o automóvel, para o trabalho, para o automóvel, para a garagem, para casa. Ao fim de semana, circulamos por ruas privadas, devidamente climatizadas e asséticas, entre fachadas exclusivamente de vidro, compostas por lojas geminadas à exaustão de um centro comercial da periferia ou do hipermercado encastrado num edifício abarracado de grandes dimensões. Construção apenas destinada a ser habitada pelo interior, o privado, e desfigurada pelo exterior, a paisagem urbana pública.

Talvez por isto não se construam jardins urbanos há mais de 60 anos, nas cidades portuguesas.

Entretanto, a vitalidade da rua e a proximidade do desejo se torna longínqua pelo definhar do comércio local.

Morremos mais tarde, mas adoecemos mais cedo e não havia necessidade. Não prevenimos a doença porque a política pública está muito encostada à privada. Caminhar na cidade não dá lucro e não nos contentamos, enquanto sociedade, em reduzir despesa. O lucro é privado, a redução da despesa é pública. Obesidade, sedentarismo e, consequentemente, problemas do foro respiratório ou cardio-vascular, estão a ser pensados nos laboratórios farmacêuticos e não, em local próprio: no espaço público, nas redes pedonais e ciciáveis, nos contínuos verdes e azuis. 

Também já não somos nacionais de uma nação, nem de muitas, somos multinacionais sem país. As bandeiras desfraldadas nos edifícios públicos e equipamentos, em todos os países, foram cerzidas na China e fazem com que os hinos nacionais sejam música para cantar no início dos jogos da seleção, com bancadas cheias de clientes do Continente, com compras acima de trinta euros.

Caminhar pela cidade é um ato de liberdade e libertário, mesmo que apenas de casa para o trabalho e regresso. O caminho que se caminha, preserva os cafés, as livrarias, o cinema de rua. A menos que a opção tirar o café com uma cápsula na máquina de casa ou do trabalho, se tateie as palavras a partir de um ecrã sem manusear os livros, ou se tente imaginar cinema a partir do modelo repetitivo de séries de canais televisivos próprios. Entretanto, a utilização do rico vocabulário que possuímos tem vindo a reduzir dramaticamente. E com a diluição do uso das palavras, diminuímo-nos a nós próprios.

Vivemos dentro de paradoxos pasmados. Faz-se algo e depois fingimos surpresa com o resultado. Por exemplo, estamos numa fila de automóveis a praguejar contra a imobilidade a que estamos sujeitos sem pensar que fazemos parte, estamos lá, somos um entre os outros que a causam.

Mais grave, é conversarmos sobre o quanto era belo o tempo da infância em que íamos a pé para a escola, enquanto ignoramos que foi a nossa geração que tornou o caminho das escolas impraticável, pelo modo como privilegiamos o automóvel individual e conferimos, com as nossas velocidades de atropelo, a insegurança inibidora dessa autonomia tão importante na formação dos jovens. Salvador Dali, terá dito, um dia, por aqui e por acolá, que originalidade é o que está na origem. Poderá ser, a partir desta frase, que se possam reinventar os dias e se lhes dê um novo sentido comum. 

Por tudo isto, descer ao espaço público, colocar o corpo na rua, assumir a cidade como espaço comum das nossas vidas, caminhar por entre ruas, ruelas e vielas, é uma atitude de enorme expressão política, das maiores que a contemporaneidade nos coloca. Assumirmos a nossa dimensão pública, sermos ao mesmo tempo, nós e o outro. Colocar o corpo no espaço público é a ousadia que confronta e resiste à nossa existência exclusivamente privada. 

Publicado por AveiroMag

O município de Braga foi distinguido com o “Global Green City Award”

O prémio “Global Green City Award” posiciona o município de Braga no restrito grupo de cidades distinguidas a nível mundial: Viena (Áustria), Vancouver (Canadá), Oakland (Nova Zelândia), Curitiba (Brasil), Nantes (França), Mannheim (Alemanha) e Yokohama (Japão), segundo acrescentou a mesma nota de imprensa.

O prémio foi entregue pela Global Forum on Human Settlements (GFHS 2023), que em colaboração com a ONU e através de 85 indicadores de diversas categorias destacaram a cidade de Braga pelo seu “excelente desempenho nas áreas-chave que contribuem para o seu estatuto de exemplar verde”, assinalou o município.

Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga demonstrou-se feliz e orgulhoso com atribuição da distinção e afirma que o prémio se trata de “um reconhecimento que espelha os esforços coletivos da nossa comunidade, autoridades locais e empresas municipais na promoção de uma cidade que abraça a responsabilidade ambiental, inovação e desenvolvimento urbano inclusivo”.

Webinar “Projetar sem Barreiras – A Acessibilidade e a Mobilidade”

A Parceira do ICVM, Associação Salvador, em conjunto com a Ordem dos Arquitetos e com a intenção de comemorar o Dia Nacional das Acessibilidades organizaram o webinar “Projetar sem Barreiras – A Acessibilidade e a Mobilidade”

23 de outubro, das 16:00 às 18:00, realizado online. Oradores confirmados:

– Engª Paula Teles (Presidente e fundadora do Instituto de Cidades e Vilas com Mobilidade) discutirá os desafios de acessibilidade e mobilidade em espaços públicos.- Arqª Manuela Oliveira (Associação Salvador) explorará a perspetiva da acessibilidade como um conceito universal.- Arq. Miguel Ganhão (Gebalis) abordará a acessibilidade em habitações.- Representante da Ordem dos Arquitectos (por anunciar) contribuirá com uma perspetiva institucional.

A participação no webinar é gratuita mas requer inscrição prévia.

Conferência – A Criança no Centro das Políticas Públicas

“A Criança no Centro das Políticas Públicas: Uma Cidade Para Todos” é o tema da Conferência Internacional que acontecerá no dia 20 de outubro na cidade de Valongo, no Fórum Cultural de Ermesinde.

Inserido na Semana Europeia da Democracia, este evento, terá presente o criador do Projeto “A Cidade das Crianças”, Francesco Tonucci. O internacional italiano, investigador e psicopedagogo, colocará em cima da mesa questões associadas aos Direitos das Crianças, defendendo que os mais pequenos assumem um papel ativo no processo de mudança, participando concretamente do governo e do projeto da cidade.

Pedro Ribeiro da Silva apresenta o seu livro em Faro

Dia 28 de setembro, às 18h , o autor Pedro Ribeiro da Silva apresentará o seu mais recente livro “A Cidade dos Dias Desacontecidos” na Biblioteca Municipal António Ramos Rosa, em Faro.

O romance “A Cidade dos Dias Desacontecidos” é uma singularíssima forma de narrar uma cronologia sem tempo, onde as vidas, mesmo as desaparecidas, são infinitas e as que surgem, se renovam em cada delicado acontecimento. A cidade, mote e palco destas 25 histórias, responde, como sempre, às vicissitudes do tempo: vigorosa nas crises, tranquila nas radicais manifestações, bela nas intempéries, afirmativa na desesperança, poética nas angústias, mas sempre estimulante, mesmo quando uma pandemia a despovoa.

Prémio Cidade Acessível 2024

A Comissão Europeia organizou, mais um ano consecutivo, o ‘Prémio Cidade Acessível 2024‘, e convida à participação, até ao dia 18 de setembro de 2023, cidades europeias que estejam empenhadas em melhorar a acessibilidade para todos os cidadãos, de modo a garantir igualdade de direitos e melhorar a qualidade de vida de todos os cidadãos.

Este Prémio tem como principal objetivo aumentar a consciencialização sobre questões de deficiência, bem como promover a acessibilidade das cidades, de modo a reconhecer as mesmas pelos esforços feitos para se tornarem mais acessíveis, promove o acesso igual à vida urbana das pessoas com deficiência e permitir às autoridades locais disseminar e partilhar melhores práticas.

Todas as cidades com mais de 50.000 habitantes em todos os Estados-Membros da União Europeia podem participar. No caso de Estados-Membros com menos de duas cidades incluídas nesta tipologia, podem participar duas ou mais cidades, se a população conjunta exceder os 50.000 habitantes, não sendo elegíveis os vencedores de edições anteriores por um período de cinco anos.

As cidades vencedoras recebem um prémio financeiro: 1º prémio: €150 000; 2º prémio: €120 000; 3º prémio: €80 000.

Relativamente às participações portugueses, destacam-se o Funchal, que na edição de 2017 foi distinguida com uma menção honrosa, e o Porto, que na edição de 2022 recebeu uma menção especial por ter melhorado a acessibilidade das suas estações ferroviárias.

Aceda ao regulamento, formulário de candidatura e demais elementos na página da iniciativa.

Webinar da Associação Salvador

Este Webinar, que marcará o encerramento a nível nacional do Projeto +Acesso para Todos – Por Comunidades mais Inclusivas, tem como objetivo refletir e promover a importância do papel das Câmaras Municipais no desenvolvimento de políticas e ações que garantam a acessibilidade para todos os cidadãos.

Programa:
11h30 – Abertura Salvador Mendes de Almeida
11h40 – Vídeo de sensibilização
11h45 – Projeto “+ Acesso Para Todos – Por comunidades mais inclusivas” – A importância do projeto e principais resultados a nível nacional (incluindo apresentação do selo);
12h10 – “As Autarquias, a sua acessibilidade e o seu papel na sociedade” –Paula Teles
12h30 – Ponto de situação do PRR – chamada de atenção para as Autarquias – Rodrigo Ramos
12h45 – Encerramento

A participação é gratuita, mas carece de inscrição através do seguinte link: https://associacaosalvador.my.salesforce-sites.com/Evento_if?idForm=a0eAX00000FRhMo

Câmara de Lamego reduz tarifas dos transportes públicos

Os bilhetes de autocarro estão, no concelho de Lamego, a custar menos do que nos anos anteriores. A Câmara decidiu reduzir as tarifas das carreiras municipais em 45% e do sistema de transportes urbanos Verdinho em 15%.

Segundo o município, um bilhete simples para as linhas municipais passa a custar 90 cêntimos quando, antes e em alguns casos, o ingresso chegava a custar mais de 3 euros. Já o valor do passe no Verdinho desce dos 17,95€ para os 15€.

“Queremos que um número maior de pessoas utilize os nossos transportes coletivos e queremos, sobretudo, aliviar os encargos que as famílias lamecenses têm com este serviço. Vivemos uma situação económica muito difícil, com a inflação em valores muito altos, e sentimos que é necessário dar este sinal de apoio aos lamecenses”, explica o Presidente Francisco Lopes.

Durante os próximos meses do corrente ano de 2023, a autarquia pretende implementar outras melhorias no serviço público, conforme ocorreu recentemente com a entrada em circulação da primeira viatura cem por cento elétrica do Verdinho e do transporte experimental, a pedido, no Lugar das Dornas.

O executivo justifica as reduções para permitir um maior acesso aos autocarros e aliviar os custos do uso dos transportes públicos para os passageiros. “Vivemos uma situação económica muito difícil, com a inflação em valores muito altos, e sentimos que é necessário dar este sinal de apoio aos lamecenses”, referiu o presidente do município de Lamego.

Vilamoura vai fornecer eletricidade a 15 mil famílias a partir de painéis

“O objetivo é sermos um dos primeiros e, provavelmente, um dos maiores a fazer e a promover uma Comunidade de Energia Renovável”, disse à agência Lusa o administrador executivo (CEO) da Vilamoura World, João Brion Sanches.

O Vilamoura World é a empresa responsável pela promoção dos lotes residenciais e turísticos inseridos nos 1.700 hectares do empreendimento. Também é proprietária da Marina de Vilamoura, a maior de Portugal, com 825 postos de amarração para barcos.

O projeto prevê, no total a instalação de cerca de 60 mil m2 de painéis fotovoltaicos, com um potencial estimado de produção anual de 50.000 megawatts-hora (MWh), suficientes para fornecer eletricidade a cerca de 15 mil casas, de acordo com comunicado da empresa.

“A nossa visão para Vilamoura, enquanto melhor destino do Algarve para viver, passar férias e investir, implica também apostar na sustentabilidade. Por isso, decidimos avançar com este ambicioso projeto, que se aplicará a todos os nossos projetos imobiliários e é extensível às áreas já consolidadas de Vilamoura”, afirmou João Brion Sanches.

A produção da energia renovável evitará a emissão de, aproximadamente, 10.000 toneladas de dióxido de carbono (CO2) ao ano, o equivalente à plantação de cerca de 80.000 árvores todos os anos, de acordo com a nota.

“Esta comunidade é muito pioneira, no sentido em que há muito poucas em Portugal. Tudo isto é muito recente”, insiste o responsável pelo empreendimento de Vilamoura.

Braga vence Prémio Europeu de Mobilidade Urbana

Comissão Europeia atribuiu, na Cerimónia realizada na noite de 23 de março 2023, em Gante,  o prémio da Semana Europeia da Mobilidade 2022, à cidade de Braga pelas suas notáveis atividades no domínio da mobilidade urbana sustentável.

Entre 16 a 22 de setembro de 2022, durante a semana da mobilidade, a cidade portuguesa colaborou com mais de 100 empresas para criar ruas pedonais e construir espaços verdes interativos. No total Braga investiu quase 13 milhões de euros a título da política de coesão da UE em autocarros elétricos e numa estratégia ambiental inovadora.

Em comunicado, a autarquia refere que “Entre melhorias na cidade, é destacado o projeto School Bus nas escolas do concelho, a criação de ciclovias, novos lugares de estacionamento para bicicletas, tal como um sistema partilhado, o alargamento de zonas pedestres e novos espaços verdes, a modernização da frota de transportes públicos para veículos elétricos, a redução dos limites de velocidade em zonas escolares, a criação de condições para pessoas com mobilidade reduzida e uma infraestrutura rodoviária mais segura”.

A cidade de Braga impressionou o júri com o seu empenho em incentivar as universidades, as empresas locais e os habitantes a aderirem a uma mobilidade mais sustentável. Para a vereadora Olga Pereira, o prémio “é mais um estímulo para continuar a trabalhar para uma mobilidade cada vez mais sustentável, em benefício de uma melhor qualidade de vida para todos”.

“Estamos a investir na mudança de mentalidades e na repartição modal. Com isto esperamos sensibilizar a população para as vantagens de adotar modos suaves de transporte, como andar a pé e de bicicleta, favorecendo a economia individual e a saúde coletiva, através da diminuição da pegada carbónica”, referiu.

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